Projeto O Desejado de Todas as Nações- Relatório Veltman

Atualidades

Projeto O Desejado de Todas as Nações

Dr. Fred Veltman Ex-presidente do Departamento de
Religião do Colégio União do Pacífico, Califórnia.

Quão dependente de fontes foi Ellen White ao escrever O Desejado de Todas as Nações? Que fontes ela usou, como as usou e mediante que processo foi o livro escrito? Primeira Parte de uma série de duas.

O fato de que Ellen White usou fontes literárias na produção de seus escritos é sabido há mais de um século. Mas em janeiro de 1980, Walter Rea, então pastor adventista no sul da Califórnia, apresentou evidência de que a dependência literária foi maior do que havia sido reconhecida antes. A natureza e o escopo de seu empréstimo literário, contudo, em especial para qualquer outro livro que não o “O Grande Conflito”, era ainda assunto de especulação. Quanto material textual havia em seus escritos, especialmente seus comentários narrativos, descritivos e teológicos sobre as Escrituras? Até que ponto foi ela dependente de fontes literárias? Refletem seus comentários a influência de outros escritores? De que escritores copiou ela e de que espécie de livros? Fez a própria Ellen White a cópia, ou a fizeram suas assistentes literárias? poderia ela ter inconscientemente reproduzido partes desses outros livros – teria ela uma memória “fotográfica”?

Estas e outras questões precisam ser consideradas antes que se possa tratar da acusação de plágio dirigida contra Ellen White e das questões levantadas sobre a natureza de sua inspiração.

A Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia assumiu a responsabilidade de uma profunda investigação do uso feito por Ellen White de fontes literárias ao escrever O Desejado de Todas as Nações. A pesquisa, que se estendeu por um período de quase oito anos e envolveu o equivalente a cinco anos de trabalho de tempo integral, terminou cerca de dois anos atrás. Os colégios e universidades adventistas em todo o mundo receberam cópias do relatório completo sobre esse estudo em profundidade. Todos os Centros de Pesquisa do Ellen G. White Estate também receberam uma cópia do documento final (1). A falta de espaço exige que meus comentários se atenham às conclusões da investigação. Todavia, para benefício dos leitores que talvez não estejam informados quanto ao estudo, falarei brevemente sobre sua base e metodologia textual. E para aqueles que podem estar interessados em minha própria reação para com os resultados da pesquisa, acompanha o último artigo desta série um pós-escrito pessoal (2). Não faço nenhuma tentativa aqui, de documentar ou provar a evidência que sustenta as conclusões.

A base textual de Ellen White

O Desejado de Todas as Nações inclui tanto narrativa como comentário teológico. Quase todo capítulo se baseia em uma porção das Escrituras. Se os adventistas estivessem interessados no uso que Ellen White faz das fontes, este livro, talvez o mais apreciado de todos os seus escritos, seria o texto óbvio para estudo.

A motivação de Ellen White para escrever O Desejado de Todas as Nações originou-se de seu desejo de preparar uma descrição mais completa da vida de Cristo, do que a que está contida no Spirit of Prophecy, volumes 1 e 2, aqueles que os colportores adventistas venderiam para o público. Durante cerca de vinte anos ela escreveu sobre este assunto, tendo finalmente publicado O Desejado de Todas as Nações em 1898.

Ela se tornou tão atraída pelo assunto que produziu material suficiente para escrever mais dois livros: Parábolas de Jesus e O Maior Discurso de Cristo. Muito do que ela escreveu, destinado posteriormente ao Desejado de Todas as Nações, apareceu inicialmente como artigos em vários jornais adventistas. De início, fomos incumbidos de estudar o texto completo de O Desejado de Todas as Nações – todos os seus 87 capítulos e mais de 800 páginas. Logo descobrimos que não tínhamos nem o tempo nem o pessoal para atacar um projeto de tal natureza. Para reduzir a base textual a tamanho acessível, pedimos a estatísticos que escolhessem a esmo 15 capítulos que servissem de amostra de todo o texto (3).

Ellen White não escreveu O Desejado de Todas as Nações capítulo por capítulo “a partir do nada”. Antes, a maior parte foi compilada de seus escritos anteriores. Assim, manuscritos anteriores a 1898 e não publicados, os artigos publicados antes daquele ano, ofereceram a base textual mais representativa de sua própria obra manuscrita. Usando o assunto dos 15 capítulos como norma, pesquisamos todos os escritos anteriores de Ellen White para localizar as cartas, manuscritos e artigos nos quais ela havia escrito sobre aqueles mesmos assuntos. Para distinguirmos estes textos do texto de O Desejado de Todas as Nações (DTN), denominamo-los “Pré-DTN”.

Metodologia

Fomos comissionados a estudar o uso feito por Ellen White de fontes literárias. Para uma investigação desse tipo, o método de pesquisa óbvio é a análise da fonte ou aquilo que é comumente chamado de “crítica da fonte”.

Nessa espécie de estudo os pesquisadores selecionam as subunidades literárias para servir de base para a comparação do texto principal e dos possíveis textos da fonte. Eles estabelecem critérios que lhes permitam encontrar as unidades literárias paralelas e determinar o grau em que as duas unidades se parecem uma com a outra.

Escolhemos a sentença como a unidade de comparação. Os 15 capítulos do texto do DTN continham 2.624 sentenças, e o texto do Pré- DTN apresentava 1.180 unidades de sentença (4).

Estabelecemos também uma escala de sete níveis de dependência. Os critérios diferenciadores entre esses níveis de dependência foram a soma das palavras textuais e a ordem dos elementos das sentenças. Por exemplo, se uma sentença de um texto de Ellen White era em muitos sentidos idêntico à sentença de um texto que servia de fonte, nós o rotulávamos de “Textual Exato” e lhe dávamos um valor de dependência de sete. Em casos nos quais a sentença era idêntica, com a exceção de que um sinônimo claro havia sido substituído por uma palavra, identificávamos a sentença como “Textual” e lhe dávamos um valor de seis indicando que esta encerrava um menor grau de dependência do que a “Textual Exata” com seu valor de sete.

Quando o texto de Ellen White e a fonte eram idênticos porque ambos os escritos dependiam diretamente das Escrituras, rotulávamos a sentença de “Citação da Bíblia” e lhe dávamos uma classificação de dependência de zero.

Quando não havia nenhuma identificação clara de dependência literária, chamávamos a sentença de “Independente” e lhe dávamos um valor de dependência zero – mesmo que o conteúdo de seu texto DTN fosse muito semelhante ao do texto da fonte (5).

A dependência literária não se limita à estrutura da sentença paralela e às semelhanças verbais. Os autores podem também consultar fontes para a disposição das sentenças e o desenvolvimento temático de um capítulo. Assim, nossa análise do texto do DTN incluía um estudo de possível dependência editorial ou redacional.

Em nossa pesquisa, examinamos mais de 500 obras, a maioria vidas de Cristo do século dezenove. Naturalmente, Ellen White não se limitou a essa espécie de literatura, quando escreveu sobre a vida de Jesus. Ela teve acesso também a sermões, livros devocionais, folhetos da Sociedade Bíblica, comentários bíblicos e literatura cristã em geral, e pode ter-se valido de materiais de quaisquer destas fontes. Em vista do fato de que não examinamos todas as vidas de Jesus disponíveis a Ellen White, muito menos a literatura de outros gêneros, que se sabe que ela leu, não há nenhuma maneira de esta investigação poder chamar-se completa ou exaustiva. Assim, o leitor deve considerar as somas e conclusões que seguem como averiguações mínimas senão tentativas, embora fizéssemos o esforço possível para realizar um estudo completo e cuidadoso.

Resumo

Desde o início do estudo e ao longo de todo ele, constantemente me vieram perguntas a respeito das conclusões. O que você acha que vai descobrir? Você será capaz de relatar os resultados de sua pesquisa sem que suas credenciais ministeriais sejam cassadas? Publicará a igreja as suas averiguações? Mudou você sua maneira de ver sobre Ellen White? Você ainda acredita que ela foi inspirada? Fizeram suas secretárias a cópia? Encontrou você qualquer discrepância entre seus escritos e as Escrituras? Acha você que o crente tem algum direito de procurar fontes, em busca de escritos inspirados? Acha você que os escritos que ela usou eram inspirados?

Conquanto fossem apropriadas e apreciadas, essas inquirições não constituíam as questões que me preocupavam. Eu tinha outras inquietações. Como poderíamos fazer a análise dos dados textuais apropriada e consistentemente? Quão exatas seriam nossas conclusões, quando baseadas numa amostra aleatória que constava de 15 capítulos de tamanho, conteúdo e dependência de fontes variáveis? Poderia nossas conclusões servir como generalizações válidas para todo o texto de O Desejado de Todas as Nações e para o método de Ellen White escrever os seus livros, em especial seus comentários sobre o grande conflito entre o bem e o mal como compreendido nas Escrituras? (6)

Minha solução foi examinar cada capítulo em função de sua própria natureza especial. Confiei em que seria capaz de deixar que os dados determinassem as perguntas a serem feitas, e me esforcei por ser receptivo a quaisquer vislumbres, mesmo novas perplexidades, que pudessem surgir da análise. No final, fiz uma lista de 14 perguntas, relacionadas com cada capítulo. Eu esperava que essas perguntas ajudassem a manter minha análise concentrada e consistente, a despeito das variações do texto e das possíveis mudanças em minha perspectiva quando o estudo progredisse.

Naquilo que vem a seguir, apresento as 14 perguntas e o correspondente relatório resumido, derivado de nossa análise dos 15 capítulos. As perguntas e respostas apresentam, além disso, clareza sobre a natureza e o escopo do estudo e formam, em grande parte, a evidência que dá sustentação aos relatos conclusivos gerais.

1. Temos nós quaisquer manuscritos (escritos a mão) de Ellen White sobre o texto do DTN? Não foi localizado nenhum capítulo, quer em forma de escrita a mão ou em cópia. Foram encontradas, nos diários de Ellen White, várias sentenças, e porções significativas de três capítulos que foram desenvolvidas de manuscritos que datam de 1897. Existem manuscritos e textos copiados para porções do texto Pré-DTN, que tratam do conteúdo de 10 dos 15 capítulos.

2. Representa o texto do DTN um aumento ou diminuição na cobertura dos assuntos sobre os quais tratou EIlen White em sua obra preliminar? E se ela ampliou sua cobertura, deve a expressão ser considerada como uma dependência maior das fontes? Não surge nenhuma resposta consistente. Alguns assuntos recebem mais atenção, outros menos. Onde o comentário foi ampliado, observamos também mais material independente. O texto do DTN geralmente representa um menor grau de dependência do que o texto Pré-DTN, e os capítulos mais longos do DTN não mostram nenhum uso mais acentuado de fontes do que o fazem os capítulos mais curtos.

3. Como o conteúdo do texto do DTN se compara em geral com o conteúdo dos escritos preliminares de EIlen White sobre a vida de Jesus? Podemos constatar qualquer influência das fontes sobre o conteúdo? Fazer a análise da fonte requer alguma consideração do conteúdo, mas achar uma resposta definitiva para esta questão exigiria um estudo separado. De uma maneira geral, há grande conformidade entre os escritos posteriores e os anteriores, com exceção do ponto em que o texto preliminar precisou de revisão. Sem dúvida, muito da concordância é devida ao uso das mesmas fontes tanto para os escritos preliminares como para os posteriores. O texto do DTN apresenta um apelo espiritual mais forte, certamente por causa do objetivo evangelístico que motivou e orientou sua produção.

4. Há quaisquer diferenças significativas entre o texto do DTN e o texto do Pré-DTN? As diferenças aparecem na ordem dos acontecimentos da vida de Cristo, a maneira como os dois textos harmonizam as narrativas das Escrituras e na exclusão do DTN de algumas histórias extrabíblicas contidas no texto do Pré-DTN. Sem dúvida, as fontes influenciaram em certo grau a cronologia da exposição da narrativa de Ellen White e a classificação temática de alguns dos seus capítulos no texto do DTN. Nem sempre é possível dizer quando a revisão é resultado da influência da fonte ou de uma leitura mais rigorosa do conteúdo bíblico.

5. Quanto do texto do DTN revela literalmente dependência?

6. Qual é a extensão da dependência literária de Ellen White ao escrever o DTN?

7. Qual é o grau de dependência do texto do DTN?

As perguntas 5, 6 e 7 se dedicam à questão básica da dependência literária. Das 2.624 unidades de sentença dos 15 capítulos, 823 (31 por cento) são, em certo grau, claramente dependentes do material que aparece nas mais de 500 fontes literárias. As restantes 1.612 unidades de sentença (61 por cento) não revelaram nenhuma semelhança verbal em nenhuma das fontes que examinamos. A média de dependência das 823 sentenças dependentes foi um pouco mais elevada do que o nível de Paráfrase Perdida (3,3).

8. Que obras principais foram usadas por Ellen White ao escrever o texto do DTN? Encontramos 10 livros dos quais Ellen White extraiu 10 ou mais semelhanças literárias por capítulo de O Desejado de Todas as Nações. The Life of Christ, de William Hanna encabeça a lista com 321 fontes paralelas. Night Scenes of the Bible e Walks and Homes of Jesus ambos de Daniel March, vêm em segundo lugar, com 129 sentenças paralelas.

Ellen White se valeu da obra de Hanna para quase cada um dos 15 capítulos. Ela, porém, não pensou em usar as outras fontes de uma forma geral assim, preferindo servir-se em grande parte de uma única fonte para cada capítulo.

9. Que fontes adicionais contribuíram para o texto do DTN? Além das fontes principais, verificamos que 21 obras, escritas por 20 autores, tiveram um impacto menor sobre os 15 capítulos. Dois autores tiveram obras tanto na categoria de maior, como de menor influência. (7)

10. Que fontes literárias foram usadas na composição dos escritos do Pré DTN? Marian Davis compilou os escritos preliminares de Ellen White sobre a vida de Cristo na forma de álbum de recorte. Foi a partir dessa coleção que o texto do DTN foi desenvolvido. Como resultado desse método de produção de livro, muitas fontes paralelas que aparecem no texto do DTN tiveram o seu primeiro aparecimento nesses escritos preliminares. Ocorrem exceções a essa esperada duplicação nas semelhanças literárias, quando o texto preliminar é incluído no texto do DTN ou quando o DTN trata do conteúdo não verificado no material preliminar.

Nosso estudo revelou que as obras de Hanna e March figuram grandemente nos textos preliminares que foram introduzidos no DTN. Nos manuscritos de Ellen White sobre a vida de Cristo, que não foram usados na formação do texto do DTN, há semelhanças literárias das obras de Frederic Farrar, John Harris, Henry Melvill, Octavius Winslow, e outros (8).

11. Em que sentido o texto do DTN se compara com o texto do Pré-DTN no uso de fontes literárias? Quando a princípio formulamos esta pergunta, havíamos pensado em avaliar cada sentença dos escritos preliminares. Limitações de tempo e pessoal, porém, impediram um estudo tão completo. Examinamos esse material preliminar em busca de uso dele feito nas fontes e observamos que na maioria dos casos ele revelou os mesmos níveis ou níveis ainda maiores de dependência literária, do que o texto do DTN.

Dentre as 1.180 unidades de sentença revistas, notamos 870 sentenças dependentes. Encontramos seis sentenças Textuais Exatas, 80 Textuais, 232 Paráfrases Exatas e 232 Paráfrases Simples. O índice médio de dependência das sentenças dependentes foi de 3,57; índice do DTN se compara a 3,3%.

Quando estudamos cuidadosamente a natureza e o grau de dependência literária daquele material preliminar, que incluía jornais pessoais de Ellen White, ficou claro para nós que era a própria Ellen White quem estava copiando das fontes. Não precisamos ver a obra de suas secretárias para explicar a semelhança da fonte encontrada em seus escritos.

12. Até que ponto o conteúdo das fontes dependentes se compara com o conteúdo das independentes? Não encontramos nenhuma diferença significativa no conteúdo. Tanto um tipo de sentença quanto o outro incluem comentário e exortação moral descritiva, devocional, espiritual e teológica. Ambos contêm pormenores como os que se poderia esperar de uma narração de testemunha ocular ou proveniente de uma visão. As diferenças que notamos envolviam a maneira em que a verdade foi afirmada e o número de sentenças ou grau de realce dado a um assunto especial. O material independente, de Ellen White, muitas vezes se estendia ao comentário descritivo, espiritual, teológico ou devocional. E quando a fonte devia ser sugestiva e indefinida quanto ao que ocorreu na vida e ministério de Cristo, EIlen White foi positiva e definitiva.

13. As estruturas literária e temática dos capítulos do texto do DTN refletem a composição estrutural das fontes que partem da influência comum da Bíblia? Embora a maioria dos capítulos do DTN reflita o uso dominante de uma fonte contém correspondentes de mais de uma fonte. Assim, as composições finais apresentam suas próprias estruturas globais, em lugar das pertencentes a alguma fonte citada (9). As seções dos vários capítulos parecem refletir os manuscritos específicos de Ellen
White. Os manuscritos preliminares de Ellen White não refletem fontes múltiplas na extensão em que o fazem os capítulos do DTN. Evidentemente, ao escrevê-los, ela usou uma fonte numa ocasião em que trabalhou em um determinado assunto ou aspecto da vida de Cristo. Quando escrevia sobre o mesmo assunto em outra ocasião, geralmente ela usava uma fonte diferente. O fato de os capítulos do DTN conterem semelhanças literárias de fontes múltiplas, mais provavelmente represente a combinação feita por Manan Davis de vários manuscritos independentes ou de jornais inteiros de Ellen White, em lugar de Ellen White assentar-se com várias fontes para compor um capítulo.

14. São os textos do Pré-DTN dependentes das fontes para a sua classificação temática? Na maioria dos exemplos, seus registros diários variavam de um assunto para outro, não apresentando comentários extensos sobre qualquer tema apresentado. Quando, porém, seus escritos do Pré-DTN tratam de um tema, em geral seguem o desenvolvimento temático da fonte. Isto é verdade em especial com respeito a seus manuscritos posteriores. Contudo, lembraríamos ao leitor as diferenças discutidas na pergunta número 12. Embora a estrutura básica do material de Ellen White em geral dependa da fonte, seu realce muitas vezes difere.

Esperamos que esta breve apreciação das 14 perguntas e suas respostas forneça tanto um contexto útil como a justificação para as conclusões claras que aparecem em outro número da revista Ministry. Estas declarações conclusivas podem bem aplicar-se a todo o texto de O Desejado de Todas as Nações, e talvez a certo número de outros escritos de Ellen White, também. Se não, elas são ao menos na minha maneira de ver – apropriadas para os 15 capítulos sobre os quais esta investigação se centraliza.


Referências:

1. Dois jornais adventistas têm publicado artigos do relatório (Adventist Review, 22 de setembro de 1988, pág. 6, e South Pacific Record, 15 de abril de 1989), mas quanto seja do meu conhecimento, em nenhum lugar as conclusões completas foram publicadas. Durante algum tempo, cópias do relatório completo e do longo capítulo dezoito, de 100 páginas: “Sumário e Conclusões”, estiveram disponíveis para compra na sala do presidente da Associação Geral. Não há mais relatório em estoque, mas ronda se pode comprar exemplares do capítulo resumido. Informações com o Dr. Charles Taylor na Associação Geral.

2. Pelo fato de ter sido o diretor do projeto, sou o único responsável por todas as avaliações, interpretação dos dados e da redação do relatório. Mas eu não poderia ter levado a efeito o projeto sem a ajuda de muitas outras pessoas, a maioria das quais mencionadas no prefácio do relatório.

3. A amostra feita ao acaso compreende os seguintes capítulos: 3, 10, 13, 14, 24, 37, 39, 46, 53, 56, 72, 76, 83 e 84.

4. Em uns poucos exemplos compostos, as sentenças foram divididas em duas cláusulas independentes e, por conseguinte, avaliadas.

5. Os outros níveis de dependência foram relacionados como segue: Paráfrases Exatas = 5, Paráfrase Simples = 4 Paráfrase Solta = 3, Fonte Bíblica = 2 (quando o uso das Escrituras reflete a fonte literária), e Independência Parcial = 1.

6. Tenho em mente aí obras tais como Patriarcas e Projetas. Projetas e Reis e Aros dos Apóstolos.

7. As outras fontes principais são: The Great Teacher de John Harris, The Life of Christ, de Frederic Farrar; Life-Scenes from ‘lhe Four Gospels; de George Jones; The Live and Times of Jesus lhe Messiah, de Alfred Edersheim; The Prince of the House of David, de J. H. Ingraham; Salvation by Christ, de Franeis Wayland; e Sabbath Evening Readings on the New Testament: SI. John, de John Cumming.

8. The Life of Christ, de Frederic Farrar; The Great Teacher, de John Harris; “Jacobs Vision and Vow” de Henry Melvill; e The Glory of the Redeemer, de Octavius Winslow.

9. Ao juntar as duas visitas a Nazaré em um só acontecimento, o capítulo 24 do DTN parece refletir a estrutura de Marcos. Existe alguma evidência para se pensar que os capítulos 46 e 76 também dependem de suas fontes para aspectos significativos de seu arranjo literário.

Projeto O Desejado de Todas as Nações:

Conclusões

Dr. Fred Veltman Ex-presidente do Departamento de
Religião do Colégio União do Pacífico, Califórnia.

A singularidade de O Desejado de Todas as Nações deve ser encontrada em seu uso prático das Escrituras e seu realce sobre as realidades espirituais e devotamento pessoal, em lugar de na originalidade do seu conteúdo.

Em que grau dependeu Ellen White de fontes literárias ao escrever O Desejado de Todas as Nações? Fez ela mesma o manuscrito ou este foi feito por suas assistentes literárias? Poderia ela ter inconscientemente usado as expressões literárias de outros autores – teria ela memória fotográfica? Nossa longa e minuciosa investigação levou a cinco conclusões gerais que lançam luz sobre estas questões essenciais,surgidas na introdução ao estudo. As conclusões se baseiam principalmente, mas não exclusivamente, nas respostas geradas pelas 14 perguntas que fizemos a cada capítulo do texto de o DTN (1). Elas incluem também interpretações dos dados, e em que grau envolvem o julgamento pessoal. Procurei, contudo, separar minha opinião daquilo que eu diria que a evidência indica ser um fato.

Procurei expor as cinco declarações conclusivas de maneira tão concisa quanto o permitiram a exatidão. Para entender de maneira conveniente o significado pretendido, o leitor deve dispensar consideração especial às explicações que acompanham e os argumentos que apoiam por breves que sejam.

Como acontece com a maioria das atividades investigatórias, o processo de tirar conclusões despertou questões adicionais que, em minha maneira de ver, exigem estudo mais demorado. Espero que a compreensão dessas questões desafie alguns leitores a juntarem seus esforços aos meus e de outros que têm procurado lançar mais luz sobre a obra e os escritos de Ellen White. Entendo perfeitamente que estas perguntas não são apresentadas para desfazer a razoabilidade dos argumentos ou sugerir que esta investigação é incompleta e, por isso, suas conclusões são inúteis.

1. Ellen White usou fontes literárias ao escrever O Desejado de Todas as Nações? O objetivo desta pergunta fundamental – para muitos uma verdade clara – é deixar claros os fatos que seguem. É de primordial importância notar que nem Ellen White nem suas assistentes literárias formaram o conteúdo básico do texto do DTN. Ao assim fazer, foi ela quem tirou expressões literárias das obras de outros autores, sem dar-lhes crédito, como sendo suas fontes (2). Em segundo lugar, seria compreensível que Ellen White usasse os escritos de outros consciente e intencionalmente. As semelhanças literárias não são o resultado de acidente ou memória fotográfica. Quanto ao fato de ter ela usado assistentes editoriais, nossa evidência mais clara do empréstimo literário de Ellen White provém de seus diários pessoais e seus manuscritos. Se quisermos determinar mais precisamente o grau de dependência literária, seria bom estudarmos os manuscritos como estes saíram de suas mãos, comparando tanto as sentenças dependentes como as independentes. Cada manuscrito deve ser considerado como um todo. Quando tomamos o capítulo como a unidade básica da composição, afastamo-nos vários passos do trabalho básico de Ellen White.

Esta primeira e fundamental conclusão jamais deixa de pedir uma inquirição posterior quanto a suas complicações. Implícita ou explicitamente, Ellen White e outros que falam em seu nome não admitiram e até negaram dependência literária de sua parte (3). À luz desse estudo e de outros, o que devemos fazer com tais negativas? Creio que qualquer tentativa de dedicar-se a este problema, deve incluir uma séria consideração da compreensão que tinha Ellen White de inspiração e de seu papel como profetisa. Tal estudo deve ser feito de acordo com o contexto do século dezenove de conceito de inspiração, em especial no meio do Adventismo.

2. O conteúdo do comentário de EIlen White sobre a vida e ministério de Cristo, O Desejado de Todas as Nações, é em sua maior parte derivado em lugar de original. À luz dos dados que nossos estudos de fonte sobre o texto do DTN proveram, esta conclusão pode parecer injustificável para alguns leitores (4). Para aqueles a quem se tem dito que as fontes literárias desempenharam um papel insignificante nas composições de Ellen White, tal declaração pode ser inacreditável. Obviamente, esta segunda conclusão geral exige algum esclarecimento. Como expliquei no primeiro artigo, a dependência de fonte envolve mais do que as semelhanças verbais. Não devemos considerar apenas o texto do DTN como se acha escrito hoje, mas também os escritos anteriores de Ellen White, a estrutura temática de seus escritos e o conteúdo de seu material, mesmo quando não exista nenhuma semelhança literária direta. Quando assim fazemos, notamos que ela dependeu de suas fontes em grau muito maior do que das semelhanças verbais do texto do DTN, para as fontes indicadas. Não devemos dar tanto peso aos argumentos do silêncio. É, porém, digno de nota que o material do DTN, que classificamos como independente, era muitas vezes material que lidava com questões que normalmente não eram discutidas numa obra sobre a vida de Cristo. Uma vez que nosso estudo se limitou em grande parte a essa espécie de literatura, o leitor deve considerar o nosso julgamento do nível de dependência da fonte, em O Desejado de Todas as Nações, como conservador (5). Em linguagem prática, esta conclusão declara que ninguém é capaz de distinguir nos escritos de Ellen White sobre a vida de Cristo qualquer categoria geral de conteúdo ou catálogo de ideias que fosse exclusivo para ela. Encontramos semelhanças originais no material teológico, devocional, narrativo, descritivo e espiritual, quer na referência ao conteúdo bíblico quer no extrabíblico.

Desde o surgimento da questão do empréstimo literário de Ellen White, a questão de quanto tem ocupado o centro do palco. Os adventistas têm sido levados a realçar a singularidade, a originalidade do conteúdo dos escritos de Ellen White. Sem dúvida, essa pretensão é decorrente do ponto de vista de que suas obras são o resultado de inspiração, posição defendida por Ellen White e ensinada pelos adventistas em geral. Mas num sentido espiritual final, Ellen White sempre insistiu em que suas obras eram derivadas. Ela recebia a informação de que escreveu suas percepções, através de visões, mediante alguma espécie de impressão sobre a mente, e das Escrituras. Ela se considerava uma mensageira do Senhor. Creio que a questão que a preocupava era a autoridade e a veracidade de suas mensagens – não a sua originalidade. Para Ellen White, toda verdade, afinal de contas, tinha origem em Deus. Esta segunda conclusão sugere algumas áreas para estudo proveitoso. Embora encontremos correspondentes para as fontes em todos os tipos de materiais do DTN, talvez necessitemos fazer uma precisa comparação do conteúdo das semelhanças e o das seções independentes (6). E pode ser que encontremos diferenças, quando estudarmos os outros livros publicados como resultado de seus escritos sobre a vida de Jesus – Parábolas de Jesus e O Maior Discurso de Cristo.

Necessitamos também prestar atenção no conteúdo de suas visões. Deixou ela algum registro – o que ela viu e quando – que nos possibilite identificar o conteúdo da visão, independentemente de seu comentário sobre a vida de Cristo, que mostre o uso de fontes? E o que dizer daquelas ocasiões nas quais foi ela impressionada a escrever? Teve ela experiências reveladoras sem ser as que em geral se entendem como visão? Deve o uso de fontes desempenhar qualquer função em tais experiências?

Há também o assunto do plágio. Já conseguimos identificar agora várias das fontes que ela usou. Conhecemos os tipos de literatura que essas fontes representam. E temos uma ideia da natureza e extensão da dependência literária de Ellen White, no que se refere a seus escritos originais. Com todos estes dados em mão, deveríamos estar capacitados a examinar a questão do plágio nos termos das convenções literárias que disciplinavam o uso de tais obras religiosas entre seus contemporâneos.

3. O caráter especial do comentário de Ellen White deve ser notado em seu uso prático das Escrituras e em seu realce sobre as realidades espirituais e devoção pessoal. Embora os escritos de Ellen White pareçam ter sido grandemente derivados, não têm falta de originalidade. Uma justa avaliação da evidência, não deveria negar ou subestimar o grau de sua dependência; mas tampouco deve passar por alto ou desprezar sua independência. A despeito de sua falta de instrução convencional e de sua dependência de fontes e auxiliares literárias, Ellen White pôde escrever. Obviamente, teve ela a capacidade de expressar claramente suas ideias. Ela não foi dependente servil de suas fontes, e a forma como introduziu seu conteúdo mostra claramente que ela conhecia as melhores construções literárias. Sabia como separar o trigo do joio.

Talvez não possamos identificar as “impressões digitais” de Ellen White no material que Marian Davis editou, mas certos traços de sua obra são prontamente visíveis. Ela não se aproxima do texto bíblico como uma exegeta erudita. Antes, examinou-o de um ponto de vista prático, apanhando o significado óbvio, quase literal. Confiou a Marian Davis a responsabilidade de decidir onde a publicação inicial necessitava ser desenvolvida. Em alguns casos, a revisão incluiu uma alteração na ordem dos acontecimentos para pôr os seus escritos em harmonia com o texto das Escrituras.

Outro característico distinto de sua obra é o realce posto naquilo que chamei de “realidades espirituais”. Ela difere de suas fontes no realce que deu às descrições das atividades ou pontos de vista de Deus e Seus anjos e de Satanás e seus anjos. Ela parece estar muito mais informada e à vontade do que suas fontes, quando fala sobre o “outro mundo”, o real embora invisível mundo dos seres espirituais do Universo. Seu interesse pela realidade é também evidente na substituição das expressões de probabilidade, suposição e imaginação encontradas nas fontes com descrições concretas, dadas no estilo de um jornalista ou testemunha ocular.

A “assinatura” de Ellen White pode também ser vista na proporção do comentário dispensado aos apelos morais ou cristãos, ou lições que comumente aparecem no fim de um capítulo. Esse aspecto deveria naturalmente ajustar-se ao propósito evangelístico que a motivou a escrever sobre a vida de Cristo. É entre seus comentários devocionais e em toda a sua apresentação do que chamei de “realidades espirituais” que temos mais probabilidade de ver sua independente mão na obra.

A independência de Ellen White deve ser também vista em sua seletividade. As fontes foram suas escravas, nunca suas senhoras. Estudos futuros bem fariam em comparar o seu texto com o das fontes e verificar-lhe a maneira de selecionar, condensar, parafrasear e reagrupar em geral muito do material que usou.

Nosso estudo suscitou outra pergunta que merece maior atenção: ficou EIlen White endividada para com as fontes que usou para seus comentários devocionais e espirituais? Encontramos várias semelhanças em uma ou duas obras desse tipo, mas nossa pesquisa não foi tão intensa, com respeito a estas obras, a ponto de deixar claro se sua aparente independência é devida à sua originalidade ou aos limites de nossa investigação. Se estendermos a pesquisa de possíveis fontes a sermões e literatura devocional, seremos capazes de dizer quão exatos são nossos dados com relação a sua independência, e apresentar de maneira exata quanto de suas seções de comentários cor responde ou difere das fontes que ela usou.

Sem dúvida alguma, um exame completo do uso feito das Escrituras por Ellen White, também será proveitoso. Limita-se a interpretação bíblica hoje a sua maneira prática de pensar? Há lugar para cuidadosa exegese? Se há mais de uma forma de abordar, legítima, para o estudo das Escrituras, deveriam os pontos de vista de Ellen White regular a interpretação adventista das Escrituras?

Finalmente, com respeito ao conteúdo, como os escritos de Ellen White sobre a vida de Cristo se comparam entre si? Já não podemos pedir a Ellen White ou àqueles que a conheceram, que nos expliquem o que ela entendia por aquilo que escreveu, Para sermos honestos para com ela e evitarmos o uso incorreto de sua autoridade, devemos ser cuidadosos com respeito à maneira como apresentamos aquilo que ela escreveu e como definimos qual foi sua posição sobre determinado assunto. Meu estudo de seus escritos sobre a vida de Jesus me tem deixado a impressão de que alguns dos seus pontos de vista mudaram várias vezes. O próprio fato de que o texto do DTN representa uma revisão de sua obra anterior, sugere que seus escritos formam uma tradição textual.

Se a investigação contínua indica que há algum progresso em suas ideias, não deveria ela sugerir que seus comentários precisam ser considerados em termos de “tempo e lugar”, não apenas em sua própria experiência de vida e tradição textual, mas com respeito ao cenário mais amplo dos seus tempos, tanto dentro como fora da igreja adventista? Talvez precisemos que autores adventistas e/ou o Ellen G. White Estate forneçam introduções para seus escritos nos moldes do que consideramos proveitoso ao estudar os escritos do Antigo e do Novo Testamento. Seja como for, não podemos necessariamente saber seu ponto de vista simplesmente encontrando uma harmonia entre todos os seus escritos sobre determinado assunto. Seu ponto de vista mais recente bem pode ser uma correção ou pelo menos uma modificação de sua posição anterior.

4. Ellen White usou um mínimo de 23 fontes de vários tipos de literatura, que incluía ficção, em seus escritos sobre a vida de Jesus (7). Na verdade, não temos nenhum meio de saber quantas fontes são representadas na obra de Ellen White sobre a vida de Cristo. Além dos 62 capítulos restantes do texto do DTN, há dois outros livros a considerar: O Maior Discurso de Cristo e Parábolas de Jesus. Estes 23 escritos são suficientes para responder às perguntas que tantos têm feito: De que escritores Ellen White tomou emprestado? De que espécies de livros são seus escritos?

O espaço não nos permite examinar todos os 23. Contudo, não há nenhuma necessidade de abranger toda a série, uma vez que muitos entram na categoria literária de “Vidas de Cristo Vitorianas”. Os livros dessa categoria jamais são considerados como biografias. Hoje em dia, provavelmente fossem classificados como ficção histórica.

Um deles, claramente considerado como fictício, é The Prince of the House of David (O Príncipe da Casa de Davi), de Ingraham, um livro que Albert Schweitzer considerou como um dos “romances ‘edificantes’ sobre a vida de Jesus, destinado à leitura da família’” (8). Ingraham lançou seu livro como
uma coleção de cartas escritas por uma testemunha ocular da Palestina para seu pai no Egito.

O livro muito cotado de William Hanna destinava-se a ser “prático e religioso” (9). Não admira que as semelhanças com Hanna possam ser encontradas em 13 dos 15 capítulos do DTN que examinamos.

Os livros encontrados na biblioteca de Ellen White na época em que ela faleceu, parecem corroborar o que seus escritos revelam. Ela se valeu grandemente da leitura de livros de tipos literários, perspectiva teológica e profunda erudição, diversas.

5. As assistentes literárias de Ellen White, de modo especial Marian Davis, são responsáveis pela forma publicada de O Desejado de Todas as Nações. O papel das assistentes literárias de Ellen White não constituiu uma das principais preocupações do estudo. Este assunto, porém, não pode ser totalmente excluído de qualquer tentativa séria de tratar do uso que ela fez das fontes. Seu método de escrever inevitavelmente envolveu o trabalho de suas secretárias, especialmente o de suas “compiladoras”. Uma parte significativa da introdução ao relatório da pesquisa envolve este, de certo modo, interessante lado da obra literária de Ellen White.

Em sua época ela era, sem dúvida, mais conhecida por suas pregações públicas do que por seus escritos. Ela gostava de falar – aproveitava toda oportunidade para falar – e confiava em sua habilidade para falar. A mesma coisa não acontecia com seus escritos. Embora pesasse sobre ela a responsabilidade de escrever, sua confiança em sua habilidade como escritora não era grande. Ela sabia que seu grau de instrução não a qualificava para escrever para publicação.

A evidência sugere que ela escrevia todos os dias em seus jornais, passando de um assunto para outro quando o tempo e a ocasião permitiam. Sem dúvida, ela trabalhava com uma fonte durante algum tempo e depois mudava para outra fonte e outro assunto. Aqueles apontamentos seriam copiados e corrigidos de acordo com a gramática, sintaxe e ortografia, quando ela entregasse aquele jornal a uma de suas secretárias. Vários jornais deveriam estar em atividade ao mesmo tempo.

Dessas compilações, suas assistentes deveriam preparar artigos para os jornais adventistas. Parece que as maiores publicações foram tiradas de compilações de materiais reunidos num álbum de recortes. Ao menos esta parece ter sido a maneira seguida com respeito aos capítulos destinados a O Desejado de Todas as Nações. Parece que suas assistentes nessas ocasiões ampliavam os manuscritos de todos os jornais. Vários manuscritos constam, em grande parte, de excertos de escritos anteriores e não trazem a assinatura de Ellen White.

A comparação que fizemos de manuscritos com o texto concluído e nosso estudo das cartas que Ellen White e Marian Davis escreveram, revela os passos requeridos para preparar o texto para publicação. Estes passos revelam claramente que Marian Davis tinha liberdade para modificar a estrutura da sentença, reformular os parágrafos e estabelecer o comprimento do capítulo. Ellen White estava mais interessada no conteúdo geral do livro, no custo, e em entregar o mais rápido possível o material ao público. Demonstrou também um vívido interesse na arte usada para ilustrar seus escritos.

Não percebi nenhuma evidência de que Marian Davis se tenha envolvido na composição original de qualquer texto de Ellen White. Mas sem os manuscritos originais é impossível provar que isso não tenha acontecido com qualquer parte do texto do DTN. Talvez fosse interessante fazer um estudo do estilo das cartas de Marian Davis e do material manuscrito de Ellen White. Se suas “impressões digitais” aparecessem, teríamos alguma base para determinar mais precisamente o nível de envolvimento que Marian Davis apresentou em seu papel como “compiladora”. Poderá ser até que ela mereça algum reconhecimento público por seus serviços, nesse sentido.

Quanto a um pronunciamento final sobre o projeto da pesquisa, acho que seria bom dizer que, com respeito ao texto de O Desejado de Todas as Nações, Ellen White foi ao mesmo tempo derivada e original. Estudos futuros trarão sem dúvida à nossa apreciação não só mais fontes, como também uma compreensão maior do papel originador de Ellen White. Com o auxílio de suas assistentes literárias, ela extraiu da pederneira comum não uma réplica da obra de outrem, mas uma primorosa composição literária que reflete a fé pessoal e a esperança cristã que ela pretendia partilhar com seus pares adventistas e a comunidade cristã em geral.

Talvez seja mais apropriado e proveitoso falar do uso criador e independente que ela fez dos seus escritos e dos escritos de outros, do que minimizar sua dependência dos escritos de outros. Seja a sentença, o parágrafo, o capítulo ou livro, é o produto final que deve, em última análise, ser levado em consideração. A leitura completa do relatório’ revelará prontamente que os múltiplos aspectos da dependência ou independência literária, em especial das grandes quantidades de texto, são às vezes muito sutis, muito entrelaçados, quando não muito complexos para ser precisa e devidamente avaliados.


 Referências:

1. Ver o primeiro artigo desta série: Ministry, outubro de 1990.

2. Não afirmo que suas secretárias não copiaram das fontes. Meu ponto de vista é que não encontrei nenhuma evidência de que elas compuseram o texto usando fontes literárias e há farta evidência nos manuscritos de Ellen White que indica ter ela assim agido.

3. Ver “Pós-escrito Pessoal” para a referência da declaração de O Grande Conflito sobre esta questão.

4. Ver as citações 5, 6 e 7 no primeiro artigo desta série: “Projeto O Desejado de Todas as Nações: Os Dados”, Ministry, outubro de 1990.

5. Por exemplo, o Capítulo 53 sobre “A Bênção dos Filhos” inclui muito comentário sobre maternidade, paternidade, e a família. Até que examinemos a literatura que conhecemos, Ellen White leu sobre assuntos tais que não podemos saber se as sentenças deste capítulo realmente merecem a classificação de independentes que lhes temos dado.

6. Para um bom exemplo de análise de conteúdo, ver “As Fontes Esclarecem a Cristologia de Ellen White”, de Tim Poirier, Ministry, dezembro de 1989, págs. 7-9.

7. A declaração sumária do primeiro artigo enumerou 28 escritos e 32 fontes, tanto para o texto do DTN como para o do pré-DTN. Apareci com o número 23 ao omitir as duplicações entre os dois exames textuais e, num esforço por estar certo de que havíamos apresentado fontes fidedignas, pela eliminação da contagem de todas as fontes que apresentavam menos de cinco semelhanças em um determinado capítulo.

8. Albert Schweitzer, The Ouest of the Historical Jesus (Londres: A. & C. Black, Ltda. 1910), pág. 328, nota 1.

9. Daniel L. PaIs, The Victorian “Lives” of Christ (San Antonio: Trinity University Press, 1982), pág. 69.


Fonte: Revista Ministério/ set-out 1991, p. 11

Entrevista com Dr. Fred Veltman

Dr. Fred Veltman, Ex-presidente do Departamento de Religião
 do Colégio União do Pacífico, Califórnia.

Algumas perguntas que me têm sido feitas sobre esta pesquisa, relacionam-se com assuntos de fé e com minhas perspectivas como adventista, Visto que me considero não só pastor, mas erudito, gostaria de responder abreviadamente a quatro dessas perguntas. Os comentários seguintes constituem minha resposta pessoal àquilo que descobri, e não conclusões tiradas dos dados pesquisados.

1. “Se o senhor acredita que Ellen White foi inspirada por Deus, por que está gastando tanto tempo examinando possíveis fontes favoráveis a seus escritos?”

Há várias razões. Justifica-se o estudo, baseando-se no interesse adventista – muitos, na igreja, perguntam sobre sua dependência literária. Nenhuma fé em Ellen White e seus escritos pode ser persuasiva se não puder subsistir à luz da verdade. Vários amigos meus – e me têm falado de muitos outros que me são desconhecidos – teriam abandonado a confiança na inspiração de Ellen White, se não no adventismo, quanto a esta questão. Caso haja aqueles que já não acham possível acreditar em Ellen White ou no adventismo, eu preferiria que sua decisão se baseasse numa compreensão adequada, em lugar de numa compreensão errada.

Há também uma base profissional para meu interesse nesse assunto. Como estudioso da Bíblia, estou consciente de que nosso conhecimento das Escrituras se deve, em grande parte, a estudos similares do texto bíblico, sua composição, história e cenário. Em minha maneira de ver, é imperativo que desenvolvamos a compreensão e os instrumentos para entender de maneira apropriada os escritos de Ellen White. Devem estes princípios surgir do entendimento do texto; e não, ser impostos ao texto.

2. “Acha senhor que Ellen White foi culpada de plágio, como alguns têm dito?”

Como salientei em meu relatório, a pesquisa não trata do assunto do plágio. Conquanto não possamos esclarecer aqui esta questão, nem eu tenha a intenção de minimizar-lhe a importância, minha opinião pessoal é que ela não foi culpada dessa prática. Encontramos citações textuais de autores aos quais não foi dado crédito. Mas a questão do plágio é muito mais complexa do que dizer simplesmente que um escritor usou o trabalho de outro sem dar o crédito. Só se pode acusar legitimamente de plágio a um escritor, quando os métodos literários desse escritor contrariam práticas estabelecidas da comunidade geral de escritores que produzem obras do mesmo gênero literário sem um contexto cultural comparável.

No processo de fazer a nossa pesquisa, verificamos que as fontes de Ellen White haviam usado umas às outras anteriormente, da mesma forma que ela as usou mais tarde. Às vezes a semelhança entre as fontes era tão grande que tínhamos dificuldade em decidir que fonte Ellen White estava usando.

3. “Como senhor harmoniza uso de fontes por Ellen White com suas declarações em contrário? Acha o senhor que a declaração introdutória ao Grande Conflito constitui um reconhecimento adequado de
dependência literária?”

Devo admitir, de início, que segundo o meu julgamento, este é o problema mais sério a ser enfrentado em ligação com a dependência literária de Ellen White. Ele fere o sentimento de sua honestidade, sua integridade e, por conseguinte, de sua fidedignidade.

Até agora não tenho e – quanto seja do meu conhecimento – ninguém tem uma resposta satisfatória para esta importante pergunta. A declaração de O Grande Conflito vem muito mais tarde em sua carreira de escritora e é muito limitada nas referências feitas a historiadores e reformadores. Admissões semelhantes não aparecem como prefácio em todos os seus escritos nos quais as fontes estão envolvidas e não há nenhuma indicação de que esta declaração especial se aplique a seus escritos de um modo geral.

Mas me parece que a declaração de O Grande Conflito fornece uma sugestão quanto ao lugar em que se pode encontrar a resposta. Aparentemente, Ellen White achava que a documentação só era necessária quando o escritor era citado como autoridade. Quando a fonte era citada para indicar “uma pronta e forçosa apresentação do assunto”, não se devia dar nenhum crédito.

A ideia de que Ellen White lidava com estas distinções em mente não resolve a questão do plágio. Nem responde cabalmente as perguntas feitas com respeito ao texto do DTN, no qual predominam as paráfrases em lugar das citações. Sugere, contudo, que Ellen White pode ter visto a dependência literária como indicando primordialmente autoridade e se aplicando grandemente a citações em lugar de ao parafraseamento.

Se a minha maneira de pensar estiver correta, responder a questão poderia exigir que estudássemos cuidadosamente suas respostas sobre o assunto da dependência literária em seu contexto histórico.

Essa maneira de encarar incluiria um escrutínio de seus comentários e dos comentários de seus contemporâneos sobre o assunto da inspiração. Se muitos crentes hoje em dia acham perturbador para sua fé na inspiração dela o uso que fez de fontes, é razoável esperar menos dos adventistas do século dezenove? As negativas e/ou não aceitações de Ellen White podem ter significado para ela algo diferente daquilo que significam para nós hoje.

4. “Pessoalmente o senhor acredita que Ellen White tenha sido uma mensageira inspirada por Deus? Em caso afirmativo, que o senhor entende por ‘inspiração’?”

Esta quarta e última pergunta é o “ponto-chave” quando aparecem perguntas sobre Ellen White. Embora não haja um único ponto de vista adventista sobre inspiração, seja dos autores das Escrituras ou de Ellen White, há margem para posições aceitáveis. Minha posição pessoal relativa a Ellen White, fundamenta-se, em primeiro lugar, em meu conhecimento do texto bíblico e, em segundo, naquilo que sei sobre Ellen White e seus escritos.

Conquanto eu não tenha todas as respostas às perguntas que são dirigidas aos escritos de Ellen White, minha crença em sua inspiração não está seriamente comprometida. Afinal, não temos todas as respostas às perguntas sobre o texto das Escrituras.

Não tenho nenhum problema com os escritores, por usarem fontes. De conformidade com minha maneira de pensar, a inspiração não é originalmente dependente. Muito das Escrituras não se preocupa em ser novo e diferente do que outros estavam dizendo ou do que foi dito no passado. Por que deveríamos esperar mais de Ellen White do que encontramos nas Escrituras?

Na verdade, como resultado de ter lido muitos de seus escritos tanto grafados a mão como a máquina, verifico que meu respeito e apreciação por Ellen White e seu ministério aumentou. Gostaria que indistintamente seus defensores e críticos tivessem a oportunidade de ler os seus escritos no contexto original. A fim de poderem sentir em primeira mão que a amplitude do seu interesse e envolvimento, de seu critério e devotamente, sua disposição e humanidade, sua piedade e espiritualidade foi tanto informativa como edificadora da fé.

Obviamente, ela era humana, teve fraquezas pessoais e de caráter, e estava longe de ser perfeita e infalível. Ela jamais pretendeu ser de outra maneira. No meu entender, seus escritos contêm declarações tanto de tempo condicionado como eterno. Estes devem ser classificados por meio dos princípios de interpretação, como acontece com as Escrituras. Estou grandemente convencido, agora mais do que antes de começar esta pesquisa, de que a questão não é saber se Ellen White foi profetisa ou apenas uma líder religiosa. Não se trata de um caso de tudo ou nada, uma coisa ou outra. Não é o caso de saber quais de suas mensagens são inspiradas ou quando ela trocou seu chapéu profético por uma touca editorial.

Encontro fortes razões para vê-Ia como uma voz profética do século dezenove em seu ministério em favor da igreja adventista, bem como para a sociedade maior. Sua voz saída daquela comunidade cristã do passado, ainda merece ser ouvida hoje naquelas mensagens eternas que falam às realidades do nosso mundo no final do século vinte.


Fonte: Revista Ministério, set./out. 1991, p. 17

Olson Comenta o Estudo de Veltman

Robert W. Olson e Davíd C. Jarnes Respectivamente, ex-secretário do 
White Estate e editor associado da revista Ministry.

Robert W. Olson faz considerações sobre o estudo de Veltman, relacionadas com O Desejado de Todas as Nações e, em sentido mais amplo, com a nossa compreensão e uso dos escritos em geral de Ellen White.

1. O senhor está satisfeito com a validade do estudo de Veltman? Tem alguma pergunta sobre a metodologia que ele usou?

Estou inteiramente satisfeito com este estudo. Ninguém poderia ter feito trabalho melhor – ninguém! Ele o fez como uma pessoa neutra teria feito, e não como um apologista.

2. Veltman diz que um mínimo de 30 por cento de O Desejado de Todas as Nações deve ter algum grau de dependência. Concorda com esse número?

Creio que seu fraseado não expressa isso com precisão. Em 31 por cento das sentenças uma palavra ou mais revela algum grau de dependência. Mas naturalmente se o que ela fez foi errado, não importa se isto envolve 90 ou 10 por cento do que ela escreveu.

3. O que este estudo significa para nossa compreensão da inspiração em geral, e da inspiração de Ellen White em particular?

Em face dos estudos dos últimos 10 ou 12 anos, temos uma compreensão muito melhor de como Ellen White produziu seus escritos, do que tínhamos antes. W. C. White e Dores Robinson procuraram explicar isto ao nosso povo em 1933. Em nossos arquivos do White Estate, temos um documento: “Breves Declarações Quanto aos Escritos de Ellen G. White”, que eles escreveram e puseram à venda naquela ocasião. No documento, eles dizem que Ellen White havia sido informada pelo Senhor de que encontraria preciosas gemas da verdade nos escritos de outras pessoas e que o Espírito Santo a ajudaria a reconhecê-Ias e introduzi-Ias em seus escritos, a fim de que fossem preservadas.

4. Como deveremos interpretar os escritos de Ellen White, agora que estamos cientes do uso que ela fez de fontes?

Bem, é simplesmente o método que Espírito Santo usou. Sabemos agora que ele não precisava ser original para ser inspirado. (Ler Lucas 1:1-4) Lucas não disse que tudo o que existe em seu livro foi original. Ele disse que escreveu a fim de que Teófilo pudesse saber o que era a verdade, o que crer. Não era novo, mas era verdadeiro. Agora sabemos que se pode dizer a mesma coisa dos escritos de Ellen White.

Sua pergunta foi como isto afetaria nossa interpretação de seus escritos. Bem, não de maneira diferente da que afeta nossa interpretação do Evangelho de Lucas. O fato de que usou fontes, não significa que ela fosse menos inspirada do que se não tivesse usado; sabemos apenas que ela teve ajuda – e ela sempre buscou ajuda ao expressar as coisas.

Em seu estudo, Veltman fala da “actualização”, por parte de Ellen White, das especulações originais dos escritores. Entendo que isto significa que, quando esses autores escreveram a respeito de um incidente, eles disseram:

“Talvez isto tenha acontecido dessa maneira”. Depois, quando Ellen White escreveu sobre o mesmo incidente, disse que aquilo aconteceu realmente daquela maneira. Estava ela realmente confirmando o que havia visto das especulações daqueles autores?

Sim, creio nisso. Mas lembremos de que Veltman não disse que ela confirmou todas as suas especulações. Ela foi seletiva. E aqui está o ponto importante.

Estudei um dos capítulos que Veltman não considerou – o capítulo “Lázaro sai para fora”, sobre a ressurreição de Lázaro. Nesse capítulo, observei pelo menos 24 pontos extrabíblicos que foram mencionados pelos 10 autores que examinei. Ellen White comentou 15 desses pontos. Em cinco casos, ela ficou completamente sozinha, opondo-se ao que os outros autores haviam dito. Por exemplo, ela escreveu que Lázaro morreu depois que o mensageiro voltou a Betânia, não antes que o mensageiro voltasse. Aí ela divergiu de Edersheim, Abbot, Farrar, Hannah, March e McMillan. Ela foi a única a fazer aquela afirmação.

Assim, onde ela tomou suas especulações e as apresentou como certas, como verdadeiras, ela o fez seletivamente. Ela não estava copiando e endossando tudo indiscriminadamente.

5. Não seria razoável dizer que talvez Deus usasse este método em parte por causa da limitada instrução de Ellen White? Talvez ela usasse esses outros autores para compensar sua falta de instrução, e pode ser que Deus tenha trabalhado com ela, mostrando-lhe que partes usar e quais ignorar.

Sim, eu assim penso. Mas eu não afirmaria que Ellen White foi infalível nas decisões que tomou ao longo dessa linha de conduta. Há em seus escritos exemplos nos quais ela discordou de si mesma. Gostaria de dizer que não tenho explicação para esta espécie de coisa. Simplesmente não mereço tanto!

Consequentemente, não pretendo comprovar toda a história, por exemplo: devido a que Ellen White escreveu? Seu principal propósito ao escrever não foi apresentar fatos históricos, quer bíblicos quer de outra espécie. Seu objetivo principal foi sempre evangelístico. Ela foi sempre uma pastora. Sempre procurou levar as pessoas aos pés da cruz.

Assim, por exemplo, em um lugar ela diz que a Torre de Babel foi construída antes do Dilúvio (1). Bem, em Patriarcas e Profetas isto está corrigido. Encontrareis coisas dessa espécie – ocasionalmente ela contradiz a si mesma. Devemos reconhecer a falibilidade. Ela aqui está.

6. Nesse ponto Olson olhou a lista de perguntas que lhe havíamos dado antes da entrevista e trouxe à baila uma que havíamos saltado.

Você perguntou sobre mudanças na cronologia – divergências na cronologia da vida de Cristo, conforme foi apresentado no texto do pré Desejado e do Desejado de Todas as Nações devidas a influências das fontes. Sabemos perfeitamente por que ela usou a cronologia que usou, pois Marian Davis nos contou. Marian diz:

“Na ordem dos capítulos, seguimos a harmonia dada por Samuel Andrews na vida de Cristo de sua autoria”. Eis por que foram feitas algumas das mudanças efetuadas. Nenhuma inspiração se associou a tais mudanças. Eu diria nenhuma orientação da parte do Senhor, dizendo: “Esta é a cronologia”.

Quando eu ensinava Vida e Ensinos no Pacific Union College, usei O Desejado de Todas as Nações para manter a sequencia, a maneira como tudo aconteceu. Eu não faria isto hoje. Agora sei que eles estavam seguindo Samuel Andrews. O Desejado de Todas as Nações pode não conter uma cronologia perfeita. Não creio que o Senhor esteja tão interessado em dar-nos alguma. Se estivesse, Lucas 4 e Mateus 4 não diferiria sobre as três tentações no deserto.

7. Acha o senhor que há ocasiões nas quais ela escreveu com a finalidade de interpretar um determinado texto ou determinar quer a história bíblica quer a eclesiástica?

Acho que ocasiões houve em que ela se portou como exegeta, mas que esses exemplos são extremamente raros. Creio realmente que ela foi uma homileticista. Ela usou as Escrituras como faria um evangelista. Tomemos, por exemplo, João 5:39.

Ela usou este texto com dois sentidos, seguindo traduções diferentes. Usou a maneira de interpretar da Versão King James: “Examinai as Escrituras [e tereis a vida eterna]“. E citou também o modo indicativo da Versão Revisada: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, [mas aprenderíeis de Mim se as lêsseis corretamente]“.

Ela usou duas traduções diferentes do mesmo verso e realmente eles têm em si ideias positivas. Ora, se ela estava disposta a fazer isso com João 5:39, sei então que não estava necessariamente procurando dar-me uma exegese de um verso, quando o citou. Ao invés disso, dele extraindo uma lição espiritual.

8. Como senhor veria a sugestão de que os escritos de Ellen White formam um “comentário inspirado sobre as Escrituras” como uma verdade apenas em sentido limitado, em lugar de uma regra geral?

Não podemos usar Ellen White como o árbitro final, determinante do que as Escrituras significam. Se o fizermos, então ela será a autoridade final, e não as Escrituras. Deve-se deixar que as Escrituras interpretem a si mesmas.

9. No artigo que contém suas conclusões, Veltman sugere que os escritos de Ellen White podem formar uma espécie de tradição textual – que seus escritos mais recentes podem diferir, em algum sentido, dos mais antigos. Acha o senhor que isto é verdade? Em caso afirmativo, devemos dar mais valor aos seus escritos mais recentes?

Considero os escritos mais recentes mais precisos – mais exatos – do que alguns dos seus escritos mais antigos. Há erros na Bíblia, mas sempre que os menciono em uma reunião pública, seja de que espécie for, não me sinto bem em falar sobre eles. Não gosto de falar também em erros em Ellen White; prefiro concentrar-me naquilo que edifica a fé. Mas, para responder à sua pergunta, há aí algumas discrepâncias. Um pouco atrás mencionei uma delas – a Torre de BabeI.

10. Talvez o segredo para lidar com os erros seja observar o propósito com que o material foi escrito. Ocorre isto com material apenas de sustentação ou ilustrativo? O que interessa é o ponto a que ela estava querendo chegar, e não se o material de sustentação, a ilustração, os meios de tratar do assunto são realmente exatos em sua totalidade.

Concordo cem por cento com você sobre isto, e acho que a maioria do pessoal do White Estate faria o mesmo. Creio que é sempre bom seguir seu conselho. Jamais encontrei um exemplo no qual você experimentaria algum tipo de sofrimento por seguir o seu conselho. Sempre verifiquei que você seria beneficiado. Agora, a explicação que ela dá para o conselho pode nem sempre ser inteira e precisamente correta. Não podemos, porém, encontrar falta no próprio conselho.

11. Passemos para a questão das assistentes literárias de Ellen White. Veltman diz que as “assistentes literárias de EIlen White, em especial Marian Davis, são responsáveis pela forma em que O Desejado de Todas as Nações foi publicado “. O senhor concorda com esta declaração?

Sim, isto é verdade. Contudo, devesse deixar claro que Ellen White supervisou Marian Davis: ela examinou e aprovou o seu trabalho. Nem uma linha foi publicada sem a aprovação de Ellen White.

Algumas vezes Marian Davis precisou substituir palavras. Ela dividia as sentenças, porque entendia que as sentenças mais curtas tornavam maior o impacto. Ela eliminava a repetição. Deu ao livro a sua forma atual. Ellen White chamava Marian Davis de sua “compiladora”. Sem ela (ou alguém semelhante a ela) jamais teríamos O Desejado de Todas as Nações, Caminho Para Cristo, Parábolas de Jesus, A Ciência do Bom Viver, Educação ou O Maior Discurso de Cristo. No caso de todos esses livros ela escolhia as passagens-chave de Ellen White e as reunia na forma de livro. Mas Marian era bastante cuidadosa ao declarar que ela era apenas a editora, e nada mais. Ela pegava aquilo que Ellen White havia escrito, e daquilo formava o livro.

Em 1900 Ellen White escreveu uma carta ao presidente da Associação Geral, o Pastor Irwin, a qual descreve como os livros dela eram produzidos: “O senhor já viu minhas copistas. Elas não mudam minha linguagem. Esta continua como a escrevi. “O trabalho de Marian é de uma espécie completamente diferente. Ela é minha compiladora…. Ela pega meus artigos publicados em jornais, e os cola em livros em branco. Ela recebe também uma cópia de todas as cartas que escrevo. Ao preparar um capítulo para um livro, Marian se recorda de que escrevi alguma coisa sobre aquele ponto especial, o qual pode tornar o assunto mais convincente. Ela começa a procurá-lo e, se ao encontrá-lo, percebe que ele tornará o capítulo mais claro, acrescenta-o.

“Os livros não são produções de Marian, mas minhas, reunidas de todos os meus escritos. Marian tem um vasto campo do qual colher, e sua habilidade para organizar o assunto é da maior importância para mim. Isso me poupa de pensar sobre uma grande quantidade de assuntos, o que não tenho tempo para fazer.” (2)

12. Escreveu Ellen White qualquer dos seus livros seguindo o processo que deveria envolver normalmente se pensar em escrever um livro, onde se cria o esboço e depois se escreve o capítulo 1, 2 e assim por diante – cada um em sequência?

Jamais se sentou ela realmente e escreveu um livro. Penso que ela nunca fez isso. Não conheço nenhum exemplo. Os únicos candidatos a isto seriam Experience and Views (1852) – seu esposo, creio eu, ajudou-a a escrever este – e os quatro volumes de Spiritual Gifts. Depois disso, a começar de 1870 com Spirit of Prophecy, vol. 1, teve ela auxílio de assistentes literárias.

Mas notei isto. Numa carta a W. C. White, Marian Davis escreveu: “A irmã White é constantemente atormentada com a ideia de que o manuscrito deveria ser enviado imediatamente aos impressores. Gostaria, se possível, de aliviar-lhe a mente, pois a ansiedade a dificulta a escrever, e, a mim, a trabalhar …. A irmã White parece inclinada a escrever, e não tenho dúvida alguma de que ela produzirá muitas coisas preciosas. Espero que possamos reuni-Ias em um livro. Há, porém, uma coisa que nem mesmo o mais completo editor poderia fazer – e esta é preparar o manuscrito antes dele estar escrito.” (3)

Dessa maneira, fica esclarecido que Marian Davis era apenas uma editora. Ellen White tinha que escrever primeiro, e depois Marian punha em ordem aquilo – “Posso intercalar isso aqui?” “Posso acrescentar alguma coisa ali?” etc.

13. Veltman escreveu a respeito de elementos de tempo condicionado nos escritos de Ellen White. Como senhor vê isto?

Reconhecemos tais elementos na Bíblia – por exemplo, a devolução por Paulo do escravo Onésimo a seu senhor. Por que não nos escritos dela? Acho que não é função do White Estate determinar o que é tempo condicionado e o que não é. E bom quando os indivíduos aplicam à sua vida os conselhos de Ellen White.

14. Suponho que esta última pergunta seja a mais difícil: O que dizer da negativa de Ellen White dos empréstimos literários?

Esta é a única coisa de que não gosto do relatório de Fred. Ele menciona esses pormenores, mas não dá nenhum exemplo. Sinto-me como escrevendo um artigo no qual menciono cada negativa isolada e, depois do parecer de um apologista, tendo que dar o meu ponto de vista sobre elas.

Há alguns problemas nos escritos de Ellen White – isto não se discute. E não tenho uma resposta totalmente satisfatória para todos eles, mas estou disposto a conceder-lhe a vantagem da dúvida, quando necessário. Percebo que Deus está operando no ministério dela. Uma vida inteira de íntima ligação com a obra de Ellen White, convenceu-me de que ela foi uma profetisa no mais elevado sentido – uma profetisa tão real como foram os profetas Elias, Natã ou Ágabo. Dessa forma, se algumas coisas existem que não posso explicar – bem, terei que esperar até que o Senhor venha e dê então a explicação.


 Referência:

1.Spiritual Gifts, vol, 3, pág. 301.

2.Do livreto preparado pelo White Estate “How the Desire of Ages Was Written”, págs. 40 e 41.

3.Idem, pág. 34.

4.Os editores da revista Ministry convidaram o Dr. Olson para escrever este artigo.

O artigo a seguir foi retirado do Centro White do UNASP Engº Coelho- SP     http://www.centrowhite.org.br/perguntas/perguntas-sobre-ellen-g-white/projeto-o-desejado-de-todas-as-nacoes/


PDF: Projeto O Desejado de Todas as Nações

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