O fim do dinheiro

Atualidades

Nós matamos o tempo e o tempo nos enterra.
Machado de Assis (1839-1908), escritor

Se você ainda não ouviu falar do SPB, não perca mais tempo: a TED desembarcou  na vida do dinheiro nosso de cada dia. Com o novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), os cheques e os DOCs acima de determinado valor passam a ser substituídos pela Transferência Eletrônica Disponível (TED).

Como é que é? Os pagamentos/recebimentos entre clientes de um mesmo banco ou entre clientes de bancos diversos passam a ser lançados em tempo real nas duas contas. O valor transferido fica disponível no ato. Não pode ser sustado nem devolvido. É dinheiro vivo e não uma “promessa de pagamento”. É o fim do cheque-voador.

Que tal ser correntista de todos os bancos a um só tempo? Que tal ser dono literal do próprio dinheiro? Sim, com acesso ao próprio depósito bancário em qualquer agência de qualquer banco em qualquer cidade? Mesmo que o banco seja pequeno, com poucas agências? Sim, a operação é sistêmica, em rede nacional.

Para Luiz Fernando Figueiredo, diretor de Política Monetária do Banco Central, o novo SPB vai trocar as bolas: o cliente era refém do banco e agora o banco torna-se refém do cliente. Fidelizar a clientela é preciso. Até porque, o custo (e o trabalho) de trocar um banco por outro vai ficar bem menor. Os bancos terão de agregar valor ao serviço prestado, ao produto oferecido e à tarifa cobrada – antes que a concorrência faça tudo isso num simples clique.

Clique, eis a questão. Roberto Luis Troster, economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), diz que o novo SPB é a ponta do iceberg de um longo e custoso processo de informatização do sistema financeiro nacional, escoltado por um vasto esquema de reestruturação jurídica e o operacional do setor.

A mudança menos visível do novo SPB (inaugurado ontem) é certamente a mais profunda: o risco sistêmico de bancos a perigo desloca-se do Tesouro Nacional (com o bolso de toda a sociedade brasileira) para o próprio usineiro do risco – o sistema financeiro. E a redução do risco potencial dá-se, doravante, pela impossibilidade de um banco sem lastro continuar operando no dia mesmo em que se pilhar a descoberto – sua posição estará transparente para todo o sistema, minuto a minuto, em tempo real “on-line”.

Roberto Luis Troster pondera que, na medida em que amplia a segurança, a competição e a liquidez do sistema financeiro em geral, o novo SPB tende a reduzir, gradativamente, as elevadas taxas de juros praticadas no Brasil. A segurança maior reduz a “cunha de risco” que cada banco impõe a todos os clientes, sólidos ou não. Redução tanto maior quanto mais feroz a concorrência e mais veloz a liquidez do sistema. Amém.

O sistema financeiro (bancos, fundos, bolsas e câmbio) realiza preparativos onerosos desde 1999 (ainda antes do abortado “bug” do milênio). E a decolagem oficial do SPB, desde ontem, se faz por etapas calibradas por uma cautela digna de uma operação “zero defect”. A partir de ordens de no mínimo R$ 5 milhões.

O consultor Antonio Hermann Azevedo sustenta que, em mais dois anos, se tanto, todos os pagamentos em banco, de qualquer valor, estarão a bordo da TED. O cheque e o DOC vão acabar fazendo companhia à ariranha e ao mico-leão: raças em extinção.

A viabilidade tecnológica do novo SPB, a da operação on-line e em multi-rede bancária (intranet, extranet e internet), apruma-se para a nova banda digital com espectro de largura quase infinita. Haverá espaço e tempo em rede para tudo e para todos. Aí, sim, teremos o advento da moeda digital em banco virtual. No cartão. Fim do dinheiro físico

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